"Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Se sou capaz de chegar ao fim ou não, não é contigo, deixa-me ir..."
-Álvaro de Campos

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Fim.

Tirou a maquilhagem e observou-se a ela mesma no espelho. 
Sentia-se fraca por saber que tinha deixado alguém dominar a vida dela de tal forma que agora já não lhe restava nada.
Cansada das palavras usuais e raramente reconfortantes, fechou-se sob si própria.
Só tinha vontade de dormir, horas a fio, sem que quaisquer sonhos lhe interrompessem esse descanso merecido. 
As pálpebras pesavam-lhe fortemente e a sua vontade era render-se ao vazio e desistir de tentar sair desse poço de angústia em que se encontrava.

Olhou tudo à sua volta.
Os livros empoeirados na secretária.
As fotografias nas paredes.
A roupa espalhada pela cama e as manchas de humidade no quarto. 
Pousou a caneta que usava para escrever no seu caderno das lamentações e retirou uma caixa de comprimidos da gaveta.

Tomou-os todos, um a um, sem pensar duas vezes no erro que poderia estar a cometer.
Sentiu-se feliz por saber que tudo estava prestes a chegar ao fim. 
Sentiu uma forte náusea e deitou-se.
Os olhos fecharam-se automaticamente e o coração, lentamente, parou de bater.

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