Tirou a maquilhagem e observou-se a ela mesma no espelho.
Sentia-se fraca por saber que tinha deixado alguém dominar a vida dela de tal forma que agora já não lhe restava nada.
Cansada das palavras usuais e raramente reconfortantes, fechou-se sob si própria.
Só tinha vontade de dormir, horas a fio, sem que quaisquer sonhos lhe interrompessem esse descanso merecido.
As pálpebras pesavam-lhe fortemente e a sua vontade era render-se ao vazio e desistir de tentar sair desse poço de angústia em que se encontrava.
Olhou tudo à sua volta.
Os livros empoeirados na secretária.
As fotografias nas paredes.
A roupa espalhada pela cama e as manchas de humidade no quarto.
Pousou a caneta que usava para escrever no seu caderno das lamentações e retirou uma caixa de comprimidos da gaveta.
Tomou-os todos, um a um, sem pensar duas vezes no erro que poderia estar a cometer.
Sentiu-se feliz por saber que tudo estava prestes a chegar ao fim.
Sentiu uma forte náusea e deitou-se.
Os olhos fecharam-se automaticamente e o coração, lentamente, parou de bater.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.